A primeira torcida organizada gay do Brasil nasceu em 1977.
Era a Coligay, nascida em Porto Alegre.
Formada por homossexuais que torciam para o Grêmio.
Em 1979, o carnavalesco Clóvis Bornay criou a Fla-Gay.
E os torcedores gays foram acompanhar um Fla-Flu.
O Flamengo perdeu por 3 a 0.
O presidente do clube na época, Márcio Braga, atribuiu a derrota à torcia.
Teria sido uma 'praga' da Fla-Gay.
A novidade não deu certo.
Tanto no Rio Grande do Sul quanto no Rio de Janeiro.
As torcidas gays tiveram de ser extintas por pressão.
Dos próprios gremistas e flamenguistas, incomodados com a ala gay.
As ameaças não eram só de agressão.
Mas de morte.
Assustados os torcedores gays desistiram.
E por décadas não se tocou nesse assunto no Brasil.
Sem espaço nos estádios, homossexuais resolveram apelar para a Internet.
Criaram páginas no Facebook para mostrar sua admiração aos clubes.
Há 11 torcidas gays virtuais.
Atlético Mineiro: Galo Queer.
Cruzeiro: Cruzeiro Maria.
São Paulo: Bambi Tricolor.
Náutico: Timbu Queer.
Grêmio: Grêmio Queer.
Vitória: Vitória Livre.
Bahia: EC Bahia Livre.
Internacional: Queerlorado.
Palmeiras: Palmeiras Livre.
Corinthians: Corinthians Livre.
Flamengo: Flamengo Livre.
Embora formadas por homossexuais fogem do termo gay.
Usam 'livre' e queer, sinônimo de homossexual em inglês.
Autores das páginas reclamam de ameaças constantes.
Principalmente de agressão.
São torcedores dos próprios clubes intolerantes.
Homofóbicos não toleram a ligação das equipes que torcem com gays.
Felipeh Menezes é jornalista e apresentador.
Homossexual assumido.
Ele trabalhava no programa Silvio Santos.
Dublava músicas maquiado no quadro Qual é a Música.
Repartia a tela com Ellen Roche.
Usava o nome artístico de Pablo.
Ele resolveu criar a primeira torcida do Corinthians gay.
Ao buscar o nome, uma ironia com a corintiana mais famosa, a Gaviões da Fiel.
Gaivotas Fiéis.
Felipeh revelou a ideia no programa Agora é Tarde de Danilo Gentili.
Faltou a mínima pesquisa.
Ele acredita que a ideia é original.
Acreditava que a sua seria a primeira torcida gay na história do futebol.
"Inserir gay no futebol fica muito mais divertido. Minha opinião é que a maior manifestação gay é um estádio de futebol, com 60 mil homens assistindo outros 22, de shorts, correndo atrás de uma bola. Aí, quando faz gol, todos gritam, pulam, batem na bunda, faltam só se beijar."
As declarações de Felipeh ao UOL são ingênuas.
"Eu acredito que com isso vai diminuir a quantidade de brigas, desavenças dentro do estádio. As baladas mais frequentadas por gays são as com menos índices de brigas. Não quero dividir os gays no estádio, mas vão ter de respeitar, temos de ser considerados. Vão ter de engolir, pois estaremos pagando para estar lá e não podem tirar o direito de ir e vir do cidadão."
Ele espera ter a adesão de 500 mil gays assim que torcida for lançada oficialmente.
Quer se reunir com a direção do Corinthians.
E com a cúpula da organizadas corintianas já existentes.
É bom Felipeh estar preparado.
A realidade é bem outra do que ele imagina.
A intolerância aos gays nos estádios não é velada.
Eles simplesmente não são aceitos nas arquibancadas.
Por causa de uma legislação frouxa, estádios nunca estiveram tão violentos.
O Ministério Público tenta pela terceira vez o banimento da Gaviões da Fiel.
Frequentadores dos ensaios de Carnaval de torcidas sabem.
Os gays não são bem-vindos.
Muito pelo contrário.
O reduto é absolutamente machista.
O beijo de Emerson Sheik na boca de um dono de restaurante criou inúmeros problemas.
Para o jogador foi um ato contra a homofobia.
A diretoria corintiana ficou revoltada.
Mas não comprou a briga diretamente.
Deixou os membros da Gaviões darem uma prensa no jogador.
Em pleno CT do Corinthians.
Emerson jurou ser heterossexual.
"Até porque não sou são paulino", justificou.
Os torcedores avisaram que não aceitariam novas 'brincadeiras'.
Sheik concordou.
Nunca mais tocou no assunto.
Ou seja, não há a menor tolerância aos homossexuais nos estádios.
Isso vale para organizadas de qualquer clube grande brasileiro.
A diretoria corintiana não tem o menor interesse em se envolver na questão.
Conselheiros importantes do Parque São Jorge me garantem.
O presidente e delegado Mario Gobbi não quer se reunir com as Gaivotas Fiéis.
A tendência é a torcida seguir o mesmo rumo da Bambi Tricolor.
Ela foi criada este ano.
Também com a ilusão de frequentar os estádios.
Mas foi reprimida pelos próprios são paulinos.
Os criadores da torcida foram ameaçados de agressão.
Seriam perseguidos se tivessem a coragem de ir ao Morumbi.
Houve a desistência.
Felipeh está correto.
Todas as pessoas deveriam ter direito de se manifestar.
Independente de escolha sexual.
Deveriam mas o homossexualismo no futebol é ainda um grande tabu.
No mundo todo.
Torcidas gays já foram reprimidas por todo planeta.
Robbie Rogers é jogador um norte-americano que resolveu se assumir gay.
Atuava no Leeds da Inglaterra.
Ao revelar sua sexualidade decidiu abandonar o futebol.
Pensou que nenhum clube o aceitaria.
Embora talentoso, as portas de equipes europeias se fecharam a ele.
Mas o Los Angeles Galaxy decidiu ter o atleta no elenco.
E não está sendo fácil.
Confessa ser alvo constante de ofensas dentro e fora do campo.
No Brasil é lógico que há jogadores gays.
Como na sociedade como um todo.
Eles não se assumem porque sabem que teriam suas carreiras acabadas.
O preconceito é enorme.
Torcedores e mesmo dirigentes acreditam que seriam motivos de chacota por ter um gay na equipe.
Emerson Sheik vive uma incrível decadência técnica.
Mas o beijo na boca de um amigo foi mais grave do que seu futebol ruim de 2013.
Sua permanência no Parque São Jorge está ameaçada.
As organizadas corintianas não o perdoaram.
Desejam sua saída no final da temporada.
Não assumem publicamente para não atrapalhar o time de Tite.
Não há a menor chance da Gaivotas dividir as arquibancadas com a Gaviões.
O futebol brasileiro ainda repele os gays.
Felipeh é corajoso, mas não tem noção da realidade.
"Sou corintiano roxo, ou rosa, sei lá.
Amo meu time, sempre gostei.
Vamos tirar um pouco do preconceito de que gay gosta de coisinhas de mulher."
As coisas estão longe de ser assim tão simples.
Não há interesse da diretoria corintiana e muito menos das demais organizadas.
A ideia de torcida homossexual já é repelida nos estádios brasileiros.
Pelos próprios torcedores do mesmo time.
Infelizmente só resta um caminho.
Sem utopia, tentar ser politicamente correto.
E os gays já adotam quando querem assistir futebol.
A clandestinidade.
A homofobia ainda é enorme.
E silenciosa.
Felipeh vai descobrir...
Fonte: Blog do Cosme Rimoli
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