Ser Doutora é pouco

Parque da Escola, uma das muitas aquisições com recursos dos bazares, realizados com peças doadas pelas 4 lojas C&A de Natal.

Não é mais novidade: resultados na educação pública dependem de comprometimento com uma política de Estado e gestão competente em todos os “escalões”, inclusive na sala de aula.

Há quase 21 anos sou servidora concursada da rede estadual de ensino do Rio Grande do Norte. Ao longo desse tempo cursei graduação (1995), especialização (2000), mestrado (2004) e doutorado (2008). Pergunto-me: será que esses títulos todos foram úteis para a escola pública?

Na condição de coordenadora pedagógica de uma pequena escola de Natal, Escola Estadual Hegésippo Reis, localizada no bairro Nova Descoberta, em 2006 idealizei um projeto pedagógico diferenciado, justamente para que atendesse as demandas daquela instituição. Dediquei-me com afinco, movida pelo desejo de reafirmar as minhas teses e certezas de que é possível promover educação de qualidade no chão da escola pública.

A partir de 2007, com o referido projeto, atraímos vários parceiros – locais e nacionais – e instalamos uma relação de cooperação com a comunidade. Algumas transformações aconteceram.

A nossa frustração: ainda não são todas as crianças que aprendem no tempo certo e tudo que poderiam aprender. Motivo principal: sofremos com as descontinuidades na equipe. Trabalhamos com professores estagiários e as debilidades e oscilações próprias desse tipo de vínculo. Não conseguimos consolidar uma equipe docente coesa e que sustente o projeto nem mesmo do começo ao final de um ano letivo. Neste momento, mês de fevereiro, a escola dispõe de apenas duas professoras para iniciar o ano letivo, uma do quadro efetivo e uma de contrato temporário.

Infelizmente, vejo que todos os meus títulos são de pouca utilidade, diante da falta de condições mínimas (professores talentosos e comprometidos) para fazer um projeto pedagógico acontecer com a qualidade que deveria.

Nutro uma expectativa bastante positiva em relação à gestão da educação que começa. Tomara que os desafios sejam enfrentados sem retardos. As crianças e adolescentes que dependem da escola pública agradecem.

Retirado do blog de Claudia Santa Rosa