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terça-feira

Mulher ganha na Justiça direito a indenização de R$ 1 milhão de família de SP que a criou: 'Eu me sentia como uma escrava'

Solange diz que se sentia uma escrava em casa de família que a adotou — Foto: TV Globo/Reprodução“Eu me sentia como uma escrava”, é com essa frase que Solange define os quase 30 anos em que passou na casa de uma família na Zona Sul de São Paulo. Em entrevista exclusiva ao G1, em parceria com o Fantástico, ela contou sobre as humilhações que viveu e quando tomou coragem de buscar seus direitos na Justiça, onde conseguiu uma indenização de R$ 1 milhão por ter sido submetida a situação análoga à escravidão.
O advogado da família condenada disse que esse tipo de relação "jamais aconteceu entre as partes" e que vai recorrer da decisão. Ainda cabe recurso da decisão ao Tribunal Superior do Trabalho.
Solange tinha apenas 7 anos quando deixou sua casa em Curitiba para viver em São Paulo. Hoje, aos 39 anos, ela conta que foi oferecida à irmã da dona da casa em que sua tia fazia faxina. “Ela prometeu para mim escola, boa casa, e que eu ia morar em São Paulo, com boa residência, família e acho que a minha mãe deve ter acreditado, aí me deu. Ela me trouxe aqui em 1987”, relata Solange.
Quando o assunto é a mãe, os olhos de Solange se enchem de lágrimas, apesar de ela não querer voltar a ter contato, ela diz que ainda sofre com o que aconteceu. “Quando eu fui virar as costas para ver minha mãe, ela já tinha ido, eu não vi a minha mãe ir embora. Nesse dia eu senti um vazio, que até hoje eu sinto, uma dor no coração. É uma coisa que até hoje me dói saber”.
Assim que entrou no carro para começar a viagem para São Paulo, Solange passou mal e já começou a sentir que as coisas não sairiam conforme o prometido. Apesar de ter partido de Curitiba com todos os documentos, antes mesmo de chegar em São Paulo, Solange se tornou Karina.
Não foi uma adoção oficial, de papel passado. Solange foi apresentada aos membros da família como um misto de filha e empregada. “Eu me senti muito ‘acoadinha’, parecendo um ratinho perdido ali em um monte de gente. Nesse dia eu não trabalhei não, porque eu estava com medo, nem saí do lugar”.
As sete primeiras noites de Solange foram em um banheiro. Ela conta que dormia entre o box e o vaso sanitário. Lavou suas roupas no banheiro e a patroa levou para a empregada estender. Segundo ela, não era permitido que a ela tivesse contato com a funcionária que trabalhava lá.
A situação permaneceu até o dia em que ela conta que contraiu uma infecção e teve que ser levada ao posto de saúde. As outras noites ela passou no chão do quarto do filho do casal, que não morava mais lá. Depois que a empregada doméstica que lá trabalhava foi demitida, ela passou a dormir na área de serviço.

Infância
Quando fala de sua infância, Solange relembra do período vivido até os 7 anos em Curitiba. Ela tem memórias simples como o pastel que comia na feira às quartas e as brincadeiras com as irmãs.
A infância na casa dos idosos que a adotaram é lembrada com um misto de responsabilidade de adulto e travessura de criança. Ela conta que desde os 7 anos já era vista como empregada e que no começo ainda era autorizada a brincar com o neto dos patrões, porém, pouco tempo depois foi proibida.
Solange lembra com um sorriso no rosto do amendoim doce que a patroa a ensinou a fazer. Porém, ela disse que não podia comer, por isso, quando a idosa ia para o telefone Solange corria para pegar o amendoim escondido e comia enquanto pulava em sua cama na área de serviço.


Fonte: G1

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