Em 4 de maio de 2004, aos 31 anos, o preso Edilson Santos Gomes escreveu uma carta ao ministro Nélson Jobim, presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), pedindo para ser transferido da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau), um forte reduto do PCC (Primeiro Comando da Capital).
Na correspondência, escrita na cela 155 do Pavilhão 3, Edilson alega não pertencer nem simpatizar com nenhuma facção criminosa. E reclama que o fato de ser apontado como integrante do PCC só lhe trazia aborrecimentos, angústias e danos irreparáveis em sua vida no cárcere.
No último dia 23, aos 50 anos, Edilson morreu na Santa Casa de Presidente Venceslau (SP). Ele estava internado porque dias antes havia ateado fogo na cela do "seguro", onde permanecia isolado por ter recebido várias ameaças de presidiários integrantes do PCC.
No atestado de óbito assinado pela médica legista Katiane de Oliveira Canto Assis consta que o preso sofreu edema agudo do pulmão e queimaduras de terceiro grau. O corpo foi enterrado no Cemitério Parque Hortolândia, na região de Campinas, interior de São Paulo.
Agentes penitenciários disseram à reportagem que Edilson ateou fogo nas roupas e no colchão da cela individual e com pouca ventilação. Os funcionários acrescentaram que o preso inalou muita fumaça tóxica, sofreu queimaduras nas pernas, braços e tórax e não resistiu.
A coluna apurou com agentes penitenciários que integrantes do PCC recolhidos na P2 de Venceslau ameaçaram matar a família de Edilson, caso o preso não se matasse. Os servidores, entretanto, não souberam detalhar os motivos das ameaças.
Ainda segundo os agentes, o PCC fez uma espécie de "lavagem cerebral" em Edilson para convencê-lo a se matar. Os funcionários disseram que o preso ficou com muito medo de que algo de ruim acontecesse com seus familiares e com ele e pediu à diretoria da unidade para ficar isolado e longe do convívio dos demais prisioneiros.
O que diz a Administração Penitenciária
Procurada pela reportagem a SAP (Secretaria Estadual da Administração Penitenciária) informou em nota que no dia 6 de fevereiro, Edilson ateou fogo na cela em que habitava sozinho, ofereceu resistência para sair do local e sofreu várias queimaduras.
A nota diz que, com muito esforço, o corpo funcional conseguiu retirá-lo da cela e controlar as chamas. Segundo a pasta, Edilson foi rapidamente socorrido à Santa Casa local, escoltado pela Polícia Militar. No hospital foi transferido para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e morreu no dia 23.
A SAP informou que o preso estava isolado desde o dia 1º de fevereiro, quando relatou ao diretor de segurança que estava correndo risco de morte. A pasta acrescentou que foi instaurada uma apuração para verificar as circunstâncias da morte e que a polícia foi comunicada do fato, bem como a família do prisioneiro.
Edilson havia sido condenado a cem anos e quatro meses de prisão pelos crimes de homicídios, latrocínio (roubo seguido de morte) e assaltos. O boletim informativo do presidiário ao qual a reportagem teve acesso mostra que Edilson cometeu ao menos dez faltas de natureza grave na prisão.
A reportagem não conseguiu contato com os advogados nem com os familiares do preso, mas publicará a versão de todos eles na íntegra caso haja uma manifestação.
As disputas por poder e dinheiro dentro da principal organização criminosa do Brasil são narradas na segunda temporada do documentário do "PCC - Primeiro Cartel da Capital", produzido por MOV, a produtora de documentários do UOL, e o núcleo investigativo do UOL.
Fonte: Uol
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