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quarta-feira

Entenda oposição de empresas de internet à construção de usina próximo a cabos submarinos em Fortaleza

Governo do Ceará informou que projeto de usina de dessalinização será alterado novamente para mitigar riscos de empresas de telecomunicações quanto ao fornecimento de internet no Brasil.
Após meses de polêmica, o projeto de construção da usina de dessalinização da água do mar na Praia do Futuro, em Fortaleza, vai ser realocado para cerca de 1.000 metros de distância do local original. A mudança foi uma resposta às preocupações das empresas do setor de telecomunicações, que eram contra a instalação da usina. Mas, afinal, por que as empresas se opunham ao projeto?
A construção da usina de dessalinização é defendida pelo Governo do Ceará como um dos mecanismos de combate à seca. Uma vez pronta, a usina iria converter a água salgada do mar em água potável, ajudando no abastecimento da população.
O projeto prevê a construção da usina no bairro Praia do Futuro, que costuma ter uma das águas mais limpas da orla de Fortaleza, o que tornaria o processo de dessalinização da água mais fácil e mais barato.
E justamente a localização da usina na Praia do Futuro era o motivo da oposição das empresas ao projeto. É que o bairro é um dos locais no Brasil mais próximos da Europa. Por isso, os cabos de fibra ótica que vêm da Europa chegam no território brasileiro por lá.
A partir da Praia do Futuro, esses cabos vão para Rio de Janeiro, São Paulo e países da América Latina. Esses cabos são responsáveis por 99% do tráfego de dados do Brasil.
Segundo a associação de operadoras TelComp, o risco de instalação da usina no local previsto inicialmente era que sua estrutura de captação de água no fundo do mar pudesse romper os cabos submarinos. Se os cabos forem rompidos, o fornecimento de internet pode ser afetado em todo o continente, deixando usuários off-line ou com internet lenta.
A Cagece, empresa estatal do governo cearense responsável pela usina, sempre defendeu que o projeto "não apresenta nenhum risco ao funcionamento dos cabos submarinos localizados na Praia do Futuro".
Na última segunda-feira (10), contudo, o Governo do Ceará confirmou ao g1 que o local de instalação da usina iria ser alterado. A estrutura vai permanecer na Praia do Futuro, no entanto, vai ser deslocada cerca de 1.000 metros de distância, o que afastaria qualquer possível risco.
No local onde era prevista a construção, o governo estadual prevê instalar um centro de ensino tecnológico.
A mudança de local foi bem recebida pelas empresas do setor de telecomunicações, que afirmou que a alteração do terreno "mitiga os riscos".
As obras da usina serão feitas por meio de parceria público-privada do consórcio SPE - Águas de Fortaleza, que venceu edital da Cagece com investimento previsto de R$ 3,2 bilhões. A previsão de conclusão das obras é para o primeiro semestre de 2026.

Entenda riscos apontados por empresas
O objetivo da usina é remover o sal da água e aumentar em 12% a oferta de água potável para a população da Grande Fortaleza. A usina opera nas seguintes etapas:
Captação da água no fundo do mar: a torre de captação e as tubulações são as estruturas da usina que ficam dentro do mar da Praia do Futuro. A água será captada a pouco mais de um quilômetro da costa, com torre submersa a 14 metros de profundidade. A água captada é levada a uma área de tratamento.
Remoção do sal: a água passa por três etapas de tratamento, até ter o sal removido. A água do mar é pressionada contra membranas, que barram a passagem das moléculas de sais. Assim, duas soluções são criadas: solvente (água) de um lado, soluto (sal) do outro.
Distribuição: a água sem o sal é levada a uma central da Cagece, de onde é distribuída para casas e estabelecimentos. O sal separado da água é levado de volta ao mar.
E qual o problema? Inicialmente, o projeto previa que a torre de captação de água da usina, que fica no fundo do mar, passaria sobre alguns cabos. Em um segundo momento, o local de instalação da usina foi desviado, o que mesmo assim continuou gerando temor por parte das empresas de internet (veja imagem acima).
"A usina vai puxar água do assoalho oceânico para tirar o sal. Essa sucção vai alterar o fundo do mar, mudando a topografia da região. E, mudando a topografia, os cabos vão se movimentar, o que também pode causar o rompimento de algum deles", explica o professor de Engenharia da Computação na Universidade Federal do Ceará (UFC) Yuri Victor Lima de Melo. "Mudando a topografia, os cabos vão se movimentar, o que também pode causar o rompimento de algum deles", diz o professor.
Após os protestos das empresas de telecomunicação, a Cagece propôs, em uma terceira versão do projeto, que a usina ficasse afastada cerca 500 metros da rede de fibra ótica.
Agora, com o anúncio desta semana do deslocamento do projeto em 1.000 metros de distância do local original, a estrutura de captação no mar, que passaria perto dos cabos, também vai ser deslocada, se afastando ainda mais dos fios.

Fonte: G1

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